MEMÓRIA SUBMERSA
Represa seca e ruínas de cidades submersas vêm à tona
Queda no reservatório do Paraibuna revela as velhas ruínas de Redenção e Natividade da Serra e traz à tona as memórias da história submersa
01/02/2015 - 09h14 - Atualizado em 02/02/2015 - 17h24 | Gustavo Abdel
igpaulista@rac.com.br
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Foto: Leandro Ferreira/ AAN
João de Deus lembra a cidade que submergiu
A memória da população que vive em duas cidades encravadas nas montanhas da Serra do Mar, a caminho do Litoral Norte de São Paulo, está emergindo após 40 anos. A estiagem que castiga o Estado trouxe à tona as ruínas das vizinhas Redenção da Serra e Natividade da Serra, inundadas na década de 1970 para a construção do reservatório de Paraibuna. Sentimentos de tristeza, preocupação e curiosidade afloraram em um povo que luta até hoje para esquecer o passado.
Há uma semana, o boletim do setor energético, divulgado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), informou que o reservatório de Paraibuna, considerado o coração do sistema que abastece o Rio de Janeiro, atingiu o seu volume morto. O reservatório faz parte da hidrelétrica da Cesp (Companhia Energética de São Paulo) e é um dos principais que compõem a bacia do Rio Paraíba do Sul.
Desde julho do ano passado, porém, tanto Redenção quanto Natividade acompanham a queda diária do reservatório que banha os dois municípios. Eles ficam no alto de colinas entrecortadas pelo reservatório, e juntos não somam mais do que 12 mil habitantes.
Em Redenção da Serra, com 4 mil moradores, poucas ruínas estão à mostra. O principal símbolo da “cidade velha” que ficou visível é a torre de uma usina de energia que abastecia pontos de Taubaté, Ubatuba e São Luiz do Paraitinga. A estrada antiga que levava ao antigo município também voltou a ser utilizada, e um enorme pasto onde ficavam casas e comércios se contrasta com a igreja Matriz isolada ao fundo, sendo ela e algumas residências da Rua Capitão Alvim as únicas construções que sobraram daquela época.
Em Natividade da Serra, a 20km de Redenção, com o nível do reservatório 30 metros mais baixo, muitos moradores e visitantes adotaram um programa atípico para os fins de semana. Eles pegam o barquinho fornecido pela Prefeitura e navegam cinco minutos até chegarem no local onde a velha Natividade existia, há 41 anos. E então, começam a garimpar metro por metro, tijolo por tijolo. Há cerca de 20 dias uma surpresa: as torres da antiga igreja Matriz de Natividade emergiram, e em mais alguns dias a praça que ficava em frente à construção aparecerá. “Mas não vai aparecer muita coisa, porque quase tudo foi destruído em um mutirão de limpeza. O que deverá surgir ainda são algumas casas e uma pequena paróquia que não chegaram a ser demolidas porque estavam inundadas por uma tromba d’água”, lembra Maria Helena Ribeiro. Ela se recorda das torres da capela indo ao chão após uma implosão.
Dois anos antes de Natividade ser inundada uma tempestade inundou parte da cidade e destruiu inúmeras casas. Isso forçou muitos moradores a anteciparem suas mudanças para o alto da colina. Com isso, muitos pertences que estavam nessas construções foram deixados para trás, e hoje estão espalhados em uma extensão de aproximadamente dois quilômetros. Ao lado da igreja, por exemplo, o cemitério também revela os túmulos da cidade que, quando foi inundada tinha 11,2 habitantes.
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